quarta-feira, setembro 14, 2011

Queer cinema (12/30): No limiar do grotesco



John Waters vai de encontro ao tema do Queer Lisboa deste ano que é simplesmente a transgressão. E é, de um modo muito genérico, a característica preponderante do seu cinema e, mais particularmente, da sua obra Pink Flamingos

Nascido no dia 22 de Abril de 1946, Waters apresenta a sua versatilidade tendo sido, até hoje, realizador, actor, comediante, escritor, jornalista e coleccionador de arte, trabalhando com um grupo de amigos actores que acabaram posteriormente por se celebrizarem e ficarem conhecidos com o curioso nome de “dreamlanders” (originário da produtora do realizador). 

O travesti Divine (um dos maiores ícones gay, falecido em 1988), de proporções e caracterização muitas vezes grotesca, surgiu na obra mais independente, “trash” e provocadora de Waters, na qual se incluem, por exemplo, os títulos Mondo Trasho, Multiple Maniacs, Female Trouble, Polyester e o famoso Hairspray (que, passado em Baltimore onde Waters nasceu, se tornou conhecido por ter a última interpretação de Divine; ser o filme categorizado um limite de idade mais abrangente, ao contrário de anteriores; e ter sido alvo de uma adaptação na Brodway e de um remake em 2007). 

Divine aparece, para além dos trabalhos já referidos, em Pink Flamingos como protagonista. Filme que cita a ousadia de Warhol, a sua existência como obra underground foi vista como uma representação necessária da contra-cultura norte-americano. Este objecto, que assim se torna simultaneamente artístico e político, manifesta uma vontade de mostrar aquilo que não é normal, tanto que acaba por ter a pretensão de se insurgir como o “filme mais nojento de sempre” e, tal como o subtítulo afirma, “um exercício de mau gosto”. 

Atentemos, por exemplo, à simples problemática da narrativa: Divine é uma drag queen que vive com a sua mãe obcecada por ovos de galinha e que vê o título de “pessoa mais nojenta viva” contestado por um casal que sequestra e viola as mulheres para, mais tarde, vender os seus bebés a casais de lésbicas. 

A problemática acaba por reflectir a lógica do absurdo e de um humor negro e surrealista pela qual o filme se gere. Hoje reconhecido como um dos maiores filmes de culto do cinema, Pink Flamingos foi relançado 25 anos depois da sua estreia em 1972 mostrando algumas cenas inéditas. Entre as mais impressionantes e perversas que criaram uma natural controvérsia no princípio dos setentas estão cenas de sexo oral explícito, um grande plano de um ânus, Divine a comer as fezes de um cão e uma relação sexual que envolve a tortura de uma galinha. 

A sua caricata relação com a exposição da homossexualidade e do travestismo acabou por tornar Pink Flamingos num dos trabalhos mais relevantes do cinema queer.

1 comentário:

  1. vou fazzer um trabalho pra faculdade sobre o grotesco nos filmes do John Walters.
    adoro Punk Flamingos, fiz um trabalho de edição usando a cena do cu que canta :D

    abs

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