quarta-feira, agosto 31, 2011

Quando os heróis são super

Após o enorme sucesso de “O Cavaleiro das Trevas”, por este ano já passaram pelos ecrãs portugueses heróis como o Capitão América, Thor ou Lanterna Verde. E mais vêm a caminho, confirmando um dos terrenos de maior sucesso do cinema de acção e aventuras do presente. Este artigo foi publicado originalmente no dia 27 de Agosto de 2011 na revista Notícias Sábado, que integra o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias.
São muitos, de todos os tamanhos, cores e feitios e são, principalmente, a personificação de uma força que os espectadores gostariam de ter: a capacidade de enfrentarem os próprios medos.

Não será certamente por acaso que sejam poucos os super-heróis que não tenham a sua origem em bandas desenhadas (encontramos excepção em filmes como 'Os Incríveis', da Disney, que curiosamente parodia célebres personagens do género). Estas personagens com super-poderes foram criadas sobretudo no início dos anos 60, quando a Guerra Fria assombrava a imaginação do público. Muito embora fossem apresentados como uma forma de puro entretenimento, a raiz de personagens como o Homem de Ferro é fundamentalmente política. Na altura, os seus inimigos eram maioritariamente russos, ligando-os invariavelmente ao comunismo temido pelo bloco ocidental dominado pelos EUA. Já 'Capitão América: O Primeiro Vingador', que recentemente estreou nas salas de cinema portuguesas, surgiu pela primeira vez num ambiente de Segunda Guerra Mundial onde se considerava fundamental utilizar um símbolo que movesse as massas como arma ideológica e patriótica contra o regime nazi. Por sua vez, o Super-Homem apresentou-se como uma réstia de esperança para uma sociedade mergulhada na Grande Depressão.

Hoje em dia, o cinema, com todas as suas evoluções tecnológicas, surge como uma ferramenta de comunicação e entretenimento talvez mais sedutora que as bandas desenhadas. Não é por isso de admirar que entre o leque de temas abordados nas narrativas destes filmes de super-heróis passe invariavelmente o terrorismo, um dos maiores medos dos espectadores contemporâneos.

Podemos por isso considerar 'O Cavaleiro das Trevas', segundo episódio da trilogia revitalizada da personagem Batman pelo realizador norte-americano Christopher Nolan, como o filme pós-11 de Setembro por excelência, confrontando o público com problemas morais que jamais outro filme do género tinha ousado colocar antes. O arqui-inimigo Joker (Heath Ledger, que recebeu um Óscar póstumo pela sua interpretação) é aqui um demente com uma inteligência supra-normal, que nos faz recordar as ideias que Behring Breivik, responsável pelos atentados ocorridos na Noruega no dia 22 de Julho deste ano, quis transmitir a uma sociedade aterrorizada.

Não obstante a responsabilidade social dos filmes de super-heróis (cujo conjunto tem justificado um novo género cinematográfico), o entretenimento e a rentabilidade que Hollywood reparou ter com estas produções fez com que inúmeras sequelas, “reboots” (ou seja, novos começos) e adaptações fossem lançadas umas a seguir às outras. É o caso de 'Os Vingadores', um verdadeiro cruzamento cinematográfico que estreará já no próximo ano e que juntará figuras como Hulk, Homem de Ferro ou o Capitão América.

A esperança que veio da América
Criado pela dupla Jerry Siegel e Joe Shuster, a personagem mais mítica com “super” no seu nome teve a primeira aparição no dia 18 de Abril de 1938, na primeira edição da revista de banda desenhada Action Comics. Como se situava em plena época de Grande Depressão, o Super-Homem batalhou inicialmente com inúmeros homens de negócios cuja prática de corrupção o levava a zelar pela justiça, o que faz com que o ensaísta Roger Sabin considere que ele era o resultado do “liberalismo ideal do New Deal, de Franklin Roosevelt”. Fora da BD, o super-herói surgiu referido na rádio, em videojogos, na televisão (em desenhos animados ou não, como as séries 'Lois & Clark', dos anos 90, ou 'Smallville', que terminou este ano), em músicas, em artes plásticas, teatro mas também no cinema. Como exemplo, podemos destacar o conjunto de episódios reunidos num filme 'Superman' (1948); o clássico 'Super-Homem – O Filme' (1978), com Christopher Reeve, seguido de três outros episódios (e que ajudou a edificar o género de filmes de super-heróis), e 'Super-Homem: O Regresso' (2006), realizado por Bryan Singer que teve desapontantes resultados de bilheteira. Encontra-se previsto para 2013 'Man of Steel', uma continuação protagonizada por Henry Cavill.

O herói que não é “super” 
Um ano depois de Super-Homem ter surgido pela primeira vez, Batman aparecia numa edição de BD da DC Comics, Porventura um dos mais misteriosos e interessantes heróis, sob a máscara do homem-morcego encontra-se Bruce Wayne, um multi-milionário que, em criança, assiste à morte dos pais e decide investir o seu dinheiro em tecnologia para tornar a sua identidade secreta e combater o crime na cidade ficcional de Gotham City. Criado originalmente por Bob Kane, Batman, o herói sem super-poderes, dá uso à inteligência e agilidade, sendo um bom modelo para os fãs, apesar do ambiente negro que o envolve. Surgindo em diferentes tipos de media, como a televisão (como séries de desenhos animados), rádio, teatro e videojogos, aparece também no cinema, sendo importante destacar 'Batman' (1989, com Jack Nicholson como Joker) e 'Batman Regressa', ambos realizados por Tim Burton num universo estético muito específico. Recentemente, Christopher Nolan revitalizou a série, criando uma trilogia da qual se destaca o enorme sucesso 'O Cavaleiro das Trevas' (2008, com uma interpretação póstuma de Heath Leadger) e cujo último capítulo, 'The Dark Knight Rises', estreará para o próximo ano.

A equipa dos “Homo Superior” 
Com uma primeira aparição em Setembro de 1963, os X-Men, que são da responsabilidade da Marvel, foram criados pela dupla Stan Lee e Jack Kirby. Situa-nos num mundo onde há seres humanos mutantes e negligenciados. E conta a forma como o Professor X pretende comprovar que, se treinados, esses mutantes podem revelar-se, com o gene “X”, superiores ao homem. Tocando não raras vezes em temas sociais como o racismo, a diversidade de género e a demanda pela aceitação e igualdade, foram criadas séries televisivas e peças teatrais baseadas nesta ideia. No cinema, é de ressaltar a existência de uma trilogia composta por 'X-Men' (2000), realizado por Bryan Singer com Hugh Jackman (que personifica o Wolverine) e Ian McKellen; 'X-Men II' (2003), e 'X-Men III: O Confronto Final' (2006). Entretanto, surgiram também prequelas: 'X-Men Origens: Wolverine' (2009) e 'X-Men: O Início', que foi lançado este ano e é protagonizado por James McAvoy. Para o ano, está agendada a estreia de 'The Wolverine', novamente com a presença de Hugh Jackman.

A liga dos esverdeados
Aparecendo ao público consumidor de bandas desenhadas pela primeira vez na 16ª edição da revista 'All-American Comics' em 1940, o corpo dos Lanterna Verde foi concebido por Bill Finger e Martin Nodell. No universo imaginado, cada Lanterna Verde possui um anel com um super-poder tão potente quanto perigoso. Com adaptação para videojogos e séries de desenhos animados e 'live action', foi realizada uma longa-metragem que acabou de estrear nas salas de cinema portuguesas no dia 18 de Agosto, e que se debruça sobre a forma como o inimigo Parallax deseja destruir o balanço inter-galáctico que os Lanterna Verde têm o objectivo de proteger. Dirigido por Martin Campbell, o filme, que tem recebido até o momento críticas geralmente desfavoráveis, conta com as interpretações de Ryan Reynolds (como Hal Jordan, o primeiro humano a ser seleccionado para os Lanterna Verde), Blake Lively, Peter Sarsgaard, Mark Strong e Tim Robbins, estando disponível em 2D ou 3D. Encontra-se de pé a possibilidade de existir uma sequela.

O super-herói acidental
Uma das mais preciosas propriedades da Marvel foi criada por Stan Lee e Steve Ditko e tornada pública em Agosto de 1962 como banda desenhada. A personagem que se esconde debaixo da máscara do Homem-Aranha é complexa. Peter Parker é um adolescente que, tal como os criadores consideravam sobre o seu público, se confrontava não poucas vezes com os sentimentos de exclusão, incompreensão e de curiosidade. Um dia, uma aranha geneticamente modificada pica-o, transformando-o num ser semi-humano e aracnídeo com poderes invulgares e espectaculares. Adaptado para séries televisivas e radiofónicas, livros, videojogos e peças de teatro (incluindo um musical controverso produzido na Brodway, com música de elementos dos U2), o cinema viu o Homem-Aranha numa trilogia com Tobey Mcguire como protagonista. Apesar dos bons resultados de bilheteira e má recepção pela crítica, chegou a ser pensado o lançamento de um quarto capítulo. Porém, será estreado para o ano um reinício da série: 'The Amazing Spider-Man 3D', realizado por Marc Webb e com Andrew Garfield como Peter Parker.

O homem que a América precisava
O Capitão América surgiu pela primeira vez em 1941, criado por Joe Simon e Jack Kirby para a Marvel Comics. A figura surge como símbolo de uma América empenhada em transmitir um sinal de força e evolução em plena Segunda Guerra Mundial. Tal como o filme 'Capitão América: O Primeiro Vingador' (que tem sido bem-sucedido em retorno financeiro e que pode ser visto agora nas salas de cinema portuguesas em 3D) o demonstra, este herói é produto de uma experiência científica e militar, cuja missão é eliminar Hitler e o regime nazi. Possivelmente o mais assumidamente patriótico (começando pelo seu título) de todos os super-heróis, o Capitão América faz parte de uma liga de personagens que serão reunidas em 'Os Vingadores' (adaptação da banda desenhada criada em 1963), a estrear no próximo ano, e que conta com a presença desta personagem, de Hulk, de Thor e de Homem de Ferro. O filme será realizado por Joss Whedon e terá Robert Downey, Jr., Mark Ruffalo, Chris Hemsworth e Chris Evans no elenco.

O playboy que decidiu salvar o mundo
A personagem que se transformou, quase por um acaso, no icónico Homem de Ferro (originalmente apresentado em Março de 1963), não nasceu com pretensões para salvar o mundo. Tony Stark, criado por Stan Lee, Larry Lieber, Don Heck e Jack Kirby, é um playboy norte-americano e um cientista multi-milionário que acabou, durante uma operação, a ser ligado a uma armadura que lhe garantia a vida. Após a ter melhorado, decidiu servir a identidade de Homem de Ferro como meio para combater os inimigos que assolavam o país. Dos anos 60 até agora, a adaptação das aventuras do super-herói foi feita basicamente para televisão (desenhos animados) e videojogos. Porém, em 2008 o público viu no grande ecrã Robert Downey Jr. como Homem de Ferro. A revitalização da personagem funcionou de tal maneira que se seguiu imediatamente uma sequela em 2010, também ela dirigida por Jon Fevreau. Poderemos esperar 'Homem de Ferro 3' em breve, já que foi anunciada uma data de estreia prevista para 3 de Maio de 2013 (nos Estados Unidos).

Uma força proporcional à fúria
Após estar acidentalmente exposto à explosão de uma bomba que ele próprio inventou, o físico Bruce Banner é transformado involuntariamente num monstro enorme e verde e cuja força brutal corresponde ao seu grau de fúria. Inspirado em Frankenstein e concebido originalmente uma vez mais por Stan Lee e Jack Kirby, as aventuras de Hulk foram publicadas em Maio de 1962 pela Marvel Comics. Com inúmeros episódios desenvolvidos para séries de televisão infantis, o Hulk surgiu pela primeira vez no cinema com o realizador chinês radicado nos EUA Ang Lee (responsável por títulos como 'O Segredo de Brokeback Mountain'), em 2003. Visto pelo produtor como um desastre de 'box office', a série sofreu um “reboot” em 2008, com 'O Incrível Hulk', protagonizado por Edward Norton, que recebeu melhor retorno financeiro e recepção por parte da crítica. Muito embora Norton tenha sido considerado para prosseguir com as sequelas, este foi substituído por Mark Ruffalo como Hulk no futuro filme 'Os Vingadores', a estrear no próximo ano.

Mais que um homem, um deus
Inspirados pelo deus supremo da mitologia nórdica, Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby criaram a personagem Thor, fazendo-a surgir pela primeira vez numa banda desenhada em Agosto de 1962. Como o objectivo inicial era gerar o mais poderoso super-herói os criadores da personagem rapidamente entenderam que em vez de ser humano o herói deveria ser um deus. Assim sendo, as aventuras de Thor desenvolvem-se entre batalhas com deuses inspirados noutras mitologias, como a grega e egípcia. Adaptado para televisão a partir dos anos 60 e para diversos videojogos, o cinema assistiu este ano à estreia de 'Thor' em 3D (estreou em Portugal no dia 28 de Abril), realizado por Kenneth Branagh e com Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins e Tom Hiddleston no elenco. Recebendo um retorno financeiro e recepção favoráveis, Thor voltará ao grande ecrã no próximo ano, à semelhança de muitos outros super-heróis, em 'Os Vingadores', e em 2013, numa sequela protagonizada novamente por Chris Hemsworth.

4 comentários:

  1. Muito bom artigo Flávio. Gostei imenso.
    Tens um erro de escrita no segmento do Hulk: escreveste Norte e penso que querias dizer Norton.


    Abraço
    Frank and Hall's Stuff

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  2. Obrigado, Bruno, pelo elogio e pela rectificação, que tratarei de emendar agora mesmo.

    Um abraço.

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  3. Um bom apanhado sobre esta nova moda dos filmes de super-heróis. Abordando o que se tem feito e falando do que nos espera.

    Fiquei curioso em saber quais os teus predilectos.

    No que toca ao segmento do Green Lantern, as coisas não são bem assim. Não foram Bill Finger e Martin Nodell os criadores do corpo dos lanternas verdes, mas antes John Broome e Gil Kane em 1959 ano em que foi criado o Lanterna Verde Hal Jordan (o usado no filme).

    Em 40 o Lanterna que mencionas é o Alan Scott o lanterna verde da chamada idade de ouro da BD que tem uma história bastante diferente da do Hal Jordan, o lanterna verde da idade de prata da BD. A DC comics tem muitas voltas e reviravoltas anda sempre a mudar coisas :P

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  4. Tens razão, Loot, bem visto. Fica aqui a informação adicional :-)

    Quanto aos meus favoritos, devo admitir que apenas o Batman me entusiasma verdadeiramente.

    Um abraço e obrigado pelo comentário.

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