segunda-feira, junho 06, 2011

As bandas musicais [i]: Alice (2005)


O jornalista e crítico de música João Moço abre “As Bandas Musicais”, rubrica mensal em que um convidado escreverá sobre uma das suas bandas musicais de eleição. Muito obrigado ao autor por esta colaboração no blogue.
Em Portugal é raro a música para cinema chegar a ser editada em CD. Inexplicavelmente colocada no segundo plano de acção, quando tantas vezes tem um lugar fulcral para uma assimilação mais profunda daquilo que o realizador nos quer contar por imagens. A banda sonora de Alice, primeira longa-metragem de Marco Martins, foi uma excepção. Não só pelo facto da música que Bernardo Sassetti compôs para o filme ter ganho uma outra vida em CD, tornando-a uma força que vale por si só, mas principalmente pelo nível de excelência que aqui se ouve. Em movimentos circulares Bernardo Sassetti vai revelando ao piano a obsessão de um pai numa busca incessante pela filha, desaparecida numa Lisboa que se mostra desencantada, sofrida. Essa Lisboa envolve a música de Sassetti pela inclusão dos ambientes da sonoplastia do filme. O mesmo tema repete-se, encontrando novos olhares em diferentes variações harmónicas e movimentos musicais, como se víssemos este pai voltando obsessivamente aos mesmos lugares na esperança de encontrar algo que preencha o vazio da perda que sofre. Assim Bernardo Sassetti conseguiu criar uma música que consegue espelhar toda a angústia que atravessa o pai de Alice (interpretado no filme exemplarmente por Nuno Lopes). Não a vemos, mas Alice está sempre lá, numa voz perdida sugerida pelo clarinete de Rui Rosa, que se ouve entre os passos repetitivos (quase como um ritual) deste pai, representados no piano de Sassetti. É impossível pensar no filme de Marco Martins sem a música de Bernardo Sassetti. Quando isto acontece é porque estamos perante uma obra maior.

João Moço

5 comentários:

  1. Nesse ano 'Alice' foi, mais até que a melhor banda sonora portuguesa desses 12 meses, o melhor disco nacional editado entre nós.

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  2. Ah, e gosto muito de ver o João Moço a escrever por estes lados...

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  3. só não foi o melhor disco nacional editado entre nós porque pouco antes o Sassetti lançou o 'Ascent', para mim a sua grande obra-prima.

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