segunda-feira, abril 20, 2009

:Apenas algumas notas para encher



Sim, não tenho escrito no blog. E, sim, tenho estado ocupado. Desta vez, é com a peça do clube de teatro lá da escola, já que estou encarregue de a escrever (muito sob pressão, para variar), com o argumento de uma curta-metragem que brevemente vou começar a filmar (e que provavelmente vai a concurso de curtas-metragens escolares como este aqui ) e, como não podia deixar de ser, com os testes e trabalhos de escola. Felizmente, o cansaço ainda não se evidenciou: pelo menos nunca estou parado e isso faz com que não comece uma vida sedentária e deprimente :P
Anyway, venho anunciar três coisas. Uma relaciona-se directamente comigo: esta sexta-feira vou a Londres! Sim, aqui o Flávio aqui vai encontrar o Woody Allen a olhar para o Big Ben e a inspirar-se para o seu novo filme. E por falar em novo filme: Sofia Coppola e Gus Van Sant têm retorno marcado. Coppola, que nos presenteou com um magnífico "Lost in Translation", vai voltar com "Somewhere", cuja premissa se assemelha bastante ao filme que acabei de referir. Já o nosso mais-que-tudo Van Sant vai adaptar uma obra literária de Tom Wolfe, "The Electric Kool-Aid Acid Test", com o argumento encarregue (imaginem lá quem!) a Dustin Lance Black. Duas excelentes notícias para me alegrarem a semana! Não percam, também, a nova colecção de DVDs do jornal "Público", todos os sábados. A primeira tiragem saiu no sábado passado, ao lançarem "Paranoid Park" (para meu grande contentamento). Os próximos filmes parecem igualmente prometer.
Até breve!

:Rebecca / Frei Luís de Sousa


Comparar o drama que fez com que Almeida Garrett merecesse estudo nas escolas secundárias com o único filme de Alfred Hitchcock a ganhar o Óscar de melhor filme parecer-nos-ia provavelmente, inicialmente, burlesco e inexequível. Todavia, são inúmeras as semelhanças que Frei Luís de Sousa e Rebecca possuem, merecedoras, claramente, de um especial destaque e reflexão.
Comecemos, primeiramente, por apresentar as obras em questão. Frei Luís de Sousa é uma peça dramática portuguesa escrita por Almeida Garrett no século XIX, que, através de diversos elementos românticos e trágicos, nos apresenta a angústia e o temor sentidos pelo inexplicável desaparecimento de D. João, marido de Madalena de Vilhena. Esta, depois de compridos sete anos à sua espera, casa-se com Manuel de Sousa Coutinho, tendo Maria de Noronha. O constante receio de Madalena, avivado pelo escudeiro Telmo Pais, acaba por se legitimar, com o inesperado regresso de D. João. O desespero que o retorno desespera nas personagens torna-se notório na tomada do hábito religioso por Madalena e Manuel, a fim de expiarem o que fizeram, e na conseguinte trágica morte de Maria. Rebecca, por outro lado, é um filme norte-americano, a preto e branco, de 1942, realizado por Alfred Hitchcock, com Joan Fontaine e Laurence Olivier. A trama prende-se com o segundo casamento de Max de Winter, que é visto por todos, principalmente por Mrs. Danvers, governanta da mansão do aristocrata, com malevolência e mistério. A nova Mrs. de Winter, que passa a conhecer a misteriosa morte de Rebecca, a primeira esposa de Max, recebe particular atenção da governanta, que adorava a falecida. A morte de Rebecca é-nos explicada perto do clímax do filme - já que causara a Max grandes ciúmes e se recusava a dar-lhe um filho, suicidara-se com o propósito de incriminar o marido de assassínio. Como consequência, Mrs. Danvers, desesperada e alienada pela humilhação, incendeia a mansão e, encurralada pelas chamas, morre.
Nos elementos análogos, que têm tanto de simbólico quanto de fatídico, e que podemos facilmente apontar, encontram-se, por exemplo, o incêndio e o segundo casamento que acontecem na peça e no filme. Quanto aos objectos, temos os retratos dos fantasmas nos quadros como factores simbólicos - a importância do quadro de Rebecca, que a nova Mrs. de Winter tenta reproduzir, é semelhante à que tem o de D. João no palácio de Almada, após o incêndio. A posição que Telmo e Mrs. Danvers assumem é, também, claramente, idêntica: ambos vivem na misteriosa sombra do amo e insistem em estimular a ideia da sua presença. As motivações poderão ser diferentes, mas torna-se clara a semelhança do sentimento de medo que conseguem despoletar nos protagonistas. Por exemplo, quando a nova Mrs. de Winter se encontra sozinha a reflectir sobre o bilhete de Max a anunciar a sua partida para Londres, a governanta faz-se surgir, misteriosa, explicando-lhe quão importante aquela divisão da casa - o quarto de Rebecca - era. Mais logo, a incitação terrível que Mrs. Danvers faz, motivando um possível suicídio da nova Mrs. de Winter, ilustra-nos a demência que tomava a governanta na altura. A atitude de Telmo não chega a atingir tal extremo, mas a devoção que tinha por D. João de Portugal é expressa na maioria dos seus diálogos com Madalena, explicita ou implicitamente, dando-lhe sempre a sensação que sim, que o amo está vivo e que regressará em breve. Se em Frei Luís de Sousa temos uma pesada e amargada atmosfera de receio e tensão exposta no uso evidente de reticências e pontos de exclamação e nos descritos cenários, em Rebecca encontramos um jogo incrível de sombras e luzes que nos conduzem a um universo onde a dúvida e os fantasmas do passado estão bem presentes.
Quer o filme, quer a peça de teatro, afiguram-se como obras-primas de inquestionável qualidade, cujo fascinante paralelismo ajudará, seguramente, a assimilar melhor toda a simbologia que os cenários, as personagens e a sua psicologia têm, assim como a desfrutar ainda mais da assombrosa experiência estética que Almeida Garrett e Alfred Hitchcock se propõe a oferecer-nos.

:The Disney King


A propósito de um especial recente promovido pelo Portal Cinema sobre os clássicos de animação da Disney, não deixo de recordar o épico que me faz acreditar na poderosa força da sétima arte. É um filme extremamente bem executado e pensado do cinema animado. A sua dimensão e força tocam de tudo um pouco, coadunando a moral que a produtora já nos habituou com uma inovadora força política e heróica como vista só nos grandes clássico. É, sim, um filme com uma enorme poesia, retratando a passagem irredutível da inocência e o brutal contacto com a morte com exímia sensibilidade, procurando, nos coros místicos africanos e na cor da arte de um continente de abundância animal, atingir a transcendência do mistério do ciclo do tempo, da vida de todos os seres. É uma autêntica epopeia que navega pelos maximizados ideais de honra e justiça, que, a esta ligação espiritual com a Natureza, se liga, também, à moral de Shakespeare com o seu Hamlet, personificado por Simba. Há que saber ver nas entrelinhas, neste específico caso nas entreimagens, e saber perceber por que O Rei Leão é tão reconhecido. Há que ter a sensibilidade de alguém que se disponha a redescobrir o mundo, a morte, a aceitação da mesma e a vivência da vida em sociedade. Sim... belíssimo e intemporal. Em cima poderão ver a primeira (grandiosa) cena do filme, que vale sempre a pena rever. E, já agora, qual o vosso filme Disney preferido e porquê?