quinta-feira, dezembro 31, 2009

:Avatar



Será assim tão necessário começar por descrever a febre que afunda este filme? Custa-me, apesar de todas as minhas anteriores convicções, admitir que sim porque, desde a sua chegada, o que se tem dito da nova película do “titânico” Cameron, consensualmente e no frenético meio que é a Internet, viaja entre “absolutamente revolucionário” a “um novo marco na História do Cinema”. Após a visualização do mesmo, fico em dúvida se se referiam ao filme em si ou ao marketing que o abraçou - porque este, louvado seja tamanho orçamento investido em tempo de crise, esteve presente como nunca antes vimos num filme. Portanto, e para terminar este assunto (tentei mesmo não iniciar uma opinião por este ponto mas…!), apelo a todos que julguem uma película como estas (e como qualquer outra, aliás) de forma independente, ponderada e lúcida.
Continuando na linha do marketing, devo dizer que era, já, por demais expectável o que poderia sair com este “Avatar”. Puro entretenimento para as massas, animação digital trabalhada com a mestria que os 237 milhões de dólares exigiam da equipa técnica (será que é desta que a Academia decide nomeá-lo para o Óscar de melhor filme de animação?), um argumento rápido e convincente para (quase) todos os espectadores. O que não se esperava, pessoalmente: um resultado tão belo e crível do mundo natural de Pandora (terá sido assim tão preciso sair dos confins da Terra, que cineastas como Malick captam de forma inigualável, para maravilhar um espectador humano?) e as referências retiradas de diversas outras obras do cinema e da literatura de uma forma gritantemente pretensiosa, fingindo uma artificial inovação em termos narrativos que ilude, facilmente, o mais ingénuo e deslumbrado espectador. Não é por menos: o 3D (ainda que me proporcionando uma indesejada dor de cabeça) funciona como nunca outro filme o conseguiu, trazendo a tudo um relevo impressionante (pelo menos na primeira meia hora). Nesse aspecto, e há que admiti-lo, espera-se nos próximos tempos uma utilização desta ferramenta mais frequente e competente (mas, por favor, 2D, não fujas de nós!). Pandora é um “novo mundo” (reforcem-se as aspas) repleto de criaturas que, muito convenientemente, na fase final da película, se unem à lá filmes da Disney para combater o inimigo comum, que é o homem. As cenas de acção resultam muito bem, principalmente na última meia hora da película. Este planeta tem, também, o seu quê de fantástico e místico que, de forma muito objectiva, é evidenciado pelas interligações que os indígenas estabelecem com toda a Natureza — uma mensagem ambientalista, espiritual, quase religiosa, que bem poderia funcionar não fosse, mais uma vez, a tentativa de parecer introdutora e criada com magnificência. Também a cultura dos Na’vi evidencia um obtuso etnocentrismo que Cameron não evitou seguir — todos eles têm características humanas e não há nada de “alien” neles, por assim dizer, são índios gigantes pintados de azul. Para finalizar o leque de lugares-comuns presente na estrutura clássica hollywoodesca do guião (há muitos mais, não vou é agora aborrecer-me a enumerá-los), John Smith conhece, também, a sua Pocahontas, relacionando-se com ela de forma incoerente e enveredando pela química humana e tradicional com que já se esperava. A fórmula de entreter e maravilhar o senso comum atingiu-se neste filme.
Pondo de parte a banda-sonora, que nada traz de novo senão uma leve impaciência e familiaridade, e pondo, também, de parte, o tema musical com que somos presenteados no final do filme (não, Cameron, “Avatar” não é o “Titanic”!), há que assinalar, por fim, a miséria geral das interpretações (com personagens tão mal construídas quanto estas, sobretudo a encarnada por Stephen Lang, não se esperava mais).
Em suma: uma técnica geral perfeita, que consegue fazer-nos suportar a duração extensa do filme, aliada a um argumento pobre e repleto de clichés, e uma experiência sensitiva apenas interessante.
6/10
[re-apreciação feita no dia 20/01/2010]

quarta-feira, dezembro 30, 2009

:Bem-vindos a Belleville



Filme de animação pouco convencional que surpreende em estilo e narrativa - Belleville rendez-vous é, simplesmente, hilariante, mágico e memorável. E o melhor são os protagonistas: uma velhinha portuguesa com muita garra e um preguiçoso (e torturado) cão chamado Bruno. Obrigado, Sylvain Chomet (e obrigado, Alexandre, por me apresentares Belleville... e muito mais)! :)

quinta-feira, dezembro 24, 2009

:Os 10 melhores filmes da década '00



Este Natal estará marcado, um pouco pela blogosfera cinéfila portuguesa, pela iniciativa “Os 10 Melhores Filmes da Década 2000” — como tal, não deixem de visitar e procurar os outros locais onde se encontrem presentes diversas listas. Definir os dez melhores filmes desta primeira década do milénio, que atravessou o fim da minha infância e o início da adolescência, é, na minha perspectiva e apesar de estar directamente envolvido nesta iniciativa, mais do que difícil. É impossível — pela simples razão que muitos foram a fitas que marcaram o mundo da sétima arte, pelo que, sem elas, o futuro que avizinhará não se demonstraria da mesma forma. Dito isto, reuni, na lista que segue, sem repetição de realizador (para evitar favoritismos e alguns esquecimentos) e sem ordem de preferência, os dez filmes que grandemente me marcaram, quer pela sua qualidade artística, quer pela forma como conseguiram mudar a minha visão do mundo e de mim. Deu-me uma pena tremenda, ao tentá-la pôr heterogénea, não incluir na lista, por exemplo e pelo menos, um filme da Disney, Mysterious Skin, Match Point, Memento, O Novo Mundo, O Senhor dos Anéis, e uma data de etc. (mas vocês saberão bem, quer lendo as minhas opiniões ou vendo as minhas classificações, quais são, verdadeiramente, os meus filmes preferidos). Mas, bem, a lista é vida e ei-la:




Hilariante, belo, mágico, fabuloso — eis como uma personagem, uma história e um visual tão rico se coadunam numa das películas mais estranhas, marcantes e positivistas de sempre.



Frenético e por demais inteligente, o cineasta brasileiro capta hiperactivamente aquilo que acabaria por ser um dos filmes mais cruéis e espectaculares de sempre.



O melhor da trilogia de Iñarritu, que atravessou, através de diferentes contextos e histórias filmadas, e com desempenhos magníficos, as profundezas da condição humana.



O melhor de Von Trier é mais do que subversivo em estética e narrativa — é sim um exemplo de como se pode fazer um verdadeiro drama psicológico, englobante a toda a humanidade e negativista até à última cena. [crítica]



Um triunfo da arte contemporânea e um ensaio inesquecível e incompreendido da adolescência e da educação actuais, captados subtil mas magnificamente por Van Sant, que, nesta década, se demarcou no meio artístico com películas que me moldaram e distinguiram em grande medida. [crítica]




A filha do criador d’O Padrinho criou, a partir de uma cidade onde a Multidão reina a Solidão, duas narrativas reais, que se enlaçaram em pequenos e inesquecíveis momentos que fazem de Lost in Translation um dos filmes mais interessantes e magníficos.



Pondo de lado toda a polémica (até porque não há, de todo, motivos para a sua existência) que a abraça, a obra de arte de Ang Lee atinge o topo dos grandes romances da sétima arte, pela subtileza, beleza e realismo que a envolvem.




A obra-prima máxima e subvalorizada de Aronosfky que, ao lado do revolucionário Requiem for a Dream, o tornou numa das mais fascinantes e brilhantes mentes da década.




A perfeição de Wright é inegável e a sua segunda longa-metragem demonstrou-o na exactidão, através da adaptação do romance filosófica e narrativamente sublime de McEwan.




Apesar de correr o risco de o filme ser o mais contestado em aparecer neste tipo de listas, estou em crer, veementemente, que tudo n’O Cavaleiro é muito bom — desde a realização encarnada como ninguém, das interpretações, da acção e da forma como a mensagem "precisamos, no mundo em que vivemos, de superheróis que não sejam super" é transmitida.

Apresentada a lista, que considerações têm os leitores a fazer? Quais seriam as vossas escolhas? O que tirariam e porquê? Enfim, e não menos importante: bom Natal para todos!


Outras listas que integram esta iniciativa:

:Boas Festas!

Bem sei que tenho andando (um pouco) desaparecido, que não tenho escrito publicações ou comentários, mas a verdade é que as férias não me aumentam tempo livre - ocupam-no, pelo contrário (o que é, analiticamente, positivo). Por isso gostava de desejar a todos os leitores, a todos que comentam, a todos os amigos um óptimo Natal (haverá época que goste mais?). E, ah!!, amanhã haverá uma surpresa para todos (os que comigo participam bem saberão do que se trata)...!

segunda-feira, dezembro 21, 2009

terça-feira, dezembro 15, 2009

:5 comédias de Natal

Deixo-vos, nesta publicação, com 5 comédias que cresceram comigo e são directamente relacionadas com o Natal. Posso, actualmente, não lhes reconhecer tanto valor quanto antes lhes dei, mas, de facto, marcaram-me. Ordenadas por preferência, são elas:

5 - How the Grinch Stole Christmas (2000)


Remake realizado por Ron Howard sobre Grinch, que é uma criatura verde que odeia tudo o que se relaciona com o Natal e tenciona roubá-lo da população materialista de Whoville. Contudo, quando conhece Cindy Lou Who, uma rapariguinha que tenta ter a sua amizade, tudo muda.
4 - Look Who's Talking Now (1993)


Terceira parte de uma trilogia sobre um casal (John Travolta e Kirstie Alley), os dois filhos e cães prestes a entrar no Natal. Contudo, tudo parece ficar destruído quando a personagem de Alley é despedida, enquanto a de Travolta é promovida a piloto para uma sedutora mulher que põe em perigo o futuro da família...
3 - Home Alone (1990)


A pérola natalícia da televisão pública portuguesa conta-nos a história de Kevin que, no Natal, é acidentalmente abandonado pela família quando esta voa para França, e tenta lutar contra dois ladrões que invadem a sua casa, onde passa a viver sozinho. Irrealista mas hilariante, quem não conhece o original de Chris Columbus nunca passou pelo contemporâneo espírito de natal.
2 - Love Actually (2003)


Uma das melhores comédias românticas da década - "O Amor Acontece" é um triunfo escrito e realizado por Richard Curtis, ambicioso no sentido em que tende a seguir 8 distintos casais no contexto natalício, em diferentes locais. Eternizado e muito querido entre nós por contar com a participação de Lúcia Moniz. Imperdoável será quem não vir, pelo menos uma só vez, esta película.
1 - The Holiday (2006)


O filme de Nancy Meyers parece não trazer nada de novo às comédias românticas e aos filmes de Natal que afundam as salas de cinema mas estou em crer que não. A espontaneidade com que Kate Winslet, Cameron Diaz, Jude Law e Jake Black contracenam e a naturalidade com que os pares românticas se vão unindo fazem-me acreditar que, para além de este ter sido, por razões pessoais, um filme inesquecível, o filme tem uma qualidade relativamente grande, e deve ser considerada por qualquer cinéfilo - ou amante do Natal! Nota especial para a composição musical de Hans Zimmer magnífica e para Just for Now, de Imogen Heap, que compõe parte da banda sonora original.

domingo, dezembro 13, 2009

:Revolutionary Road



Depois do mega-sucesso titânico de James Cameron, via-se, com grande previsibilidade, que a dupla Winslet/DiCaprio tivesse portas abertas para infindáveis projectos cinematográficos, algo que, efectivamente, se veio a comprovar com a multiplicidade de filmes que os dois jovens actores deram vida. “Titanic” continuou a ser, contudo, a película que os eternizou e foi com uma inevitável nostalgia e ansiedade (Sam Mendes já se demarcara no terreno do cinema americano), que “Revolutionary Road” foi esperado pelo público. Se correspondeu às expectativas? Tendo em conta que as minhas dúvidas, é, com segurança, que afirmo que foram ultrapassadas.
Voltando às passadas de “American Beauty”, o cineasta e Justin Haythe abraçam, com determinação, um projecto que, sendo a olhos comuns visto como fácil ou banal, adapta um romance socialmente crítico de Richard Yates. Explorando as profundezas de uma instituição que entrava já, nos EUA dos anos 50, em decadência geral, e explorando, de igual forma, a hierarquia e código moral que regiam o contexto, “Revolutionary Road” continua, na sua estrutura narrativa, moderno, actual e interventivo. Com uma mensagem claramente negativista quanto ao casamento, o filme, fiel ao livro até à cena final, tende a captar como se suportam, num mar de rotina, estandardização e niilismo nas actividades dos subúrbios, dois seres humanos, que erram ao tentar ultrapassar as dificuldades com ilusões, sonhos e esperanças. Quando as realidades do tempo e da responsabilidade familiar lhes começam a pesar na consciência, mais erros são, como infeliz consequência, realizados, levados estes até ao limite com uma trágica recta final, repleta de uma melancolia exacerbada com elegância e simplicidade, pendendo a estimular, a posteriori, uma reflexão pessoal por parte do espectador mais atento.
O que os Wheeler queriam para si, Sam Mendes conseguiu-o para o filme: manter as aparências de uma família tão denegrida e disfuncional com uma estética por demais perfeita e bela. Com enquadramentos simples, mas magníficos se atendermos à situação captada, o realizador, aliado à fotografia de Roger Deakins e a uma direcção artística talhada até o pormenor, traz-nos um festim harmonioso de planos coloridos memoráveis.
Tudo se coaduna, pois, quando uma madura Kate Winslet (que está mais bela e talentosa que nunca) contracena com um igualmente experiente Leonardo DiCaprio que aclama uma evolução performativa incontestável. Os dois movem-se mais reais que qualquer outro casal destroçado, preso às rígidas convenções e às normas morais que interiorizaram toda a vida. Como April e Frank, os dois devem agradecer a Mendes por terem uns dos melhores papéis que já tiveram na grande tela. Há que salientar, de forma também justa e igual, a figura de Michael Shannon (com uma nomeação merecida para o Óscar de melhor actor secundário), que encarnou uma personagem crítica mas socialmente demente e reprovadora e que exaltou a necessidade de mudança nas circunstâncias por que passava o casal.
Para completar, não há como não referenciar a banda sonora de Thomas Newman, das melhores que alguma vez tive a oportunidade de ouvir dele (ao lado de “Anjos na América) e de outros, fazendo com que o piano e o violino tenham o casamento que os protagonistas gostariam de ter.
Despretensioso, natural, simples mas, seguramente, imperdível, só saberemos, mais tarde, se esta obra ascenderá ao estatuto de obra-prima daqui a uns largos anos. Entretanto, restemo-nos com um “Revolutionary Road” que ficará connosco como um dos exemplos do bom cinema que (ainda) se pode fazer.
9/10

:«A crítica está rendida a "Avatar"»


Após ter lido esta notícia, só saberei se "a crítica está rendida a Avatar" ou à hype gerada por Avatar quando o for ver.  Só sabemos que não temos, seguramente, um My Heart Will Go On. Enfim: expectativas a zero, não para ser desiludido mas para ser surpreendido.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

:Enquanto o trabalho me afunda o tempo...

Casamento gay deverá ir a Conselho de Ministros para a semana

...sabe mesmo bem receber uma notícia destas. Tanta luta, tantas reivindicações e parece mesmo que é desta ;)

quarta-feira, dezembro 02, 2009

:Beleza Americana

Image Hosted by ImageShack.us



É com grande facilidade e legitimidade que podemos considerá-lo o último grande clássico do século vinte, uma obra-prima marcante merecedora de todos os prémios recebidos. “American Beauty” consegue, contudo, transcender o reconhecimento atribuído pelo público em geral, expressando quase na perfeição, com a sordidez, falsidade e imbecilidade das acções humanas que nos fazem parecer tão pequenos, a beleza do mundo.
Sam Mendes, que recentemente nos trouxe um “Revolutionary Road” com reflexos evidentes deste trabalho (quer no estilo ou na história), ganha a verdadeira qualidade de realizador, com uma louvável direcção artística: planos memoráveis que se cursam com uma harmonia e calma incríveis, um jogo intenso de cores e uma diversidade de elementos simbólicos que só poderiam resultar de um argumento de génio (assinado por Alan Ball), que toca em temas tão simples quanto profundos. Aliás, podemos considerar que tudo o que está escrito é o ponto mais elevado da película. As diferentes narrativas, com todas as suas particularidades, se interligam numa última hora de clímax exímia, que Thomas Newman fez questão de, mais uma vez, não passar por despercebida, levando aos nossos ouvidos, como o fez já com “Os Condenados de Shawshank”, “Anjos na América”, “À Procura de Nemo” e “Revolutionary Road”, uma admirável banda-sonora. Nada, claro, está nas cenas por um simples acaso. Só a despretensiosa (mas constante) presença das rosas e pétalas vermelhas personificam a pura inocência que o conjunto maravilhoso de actores não arruinou.
De longe, Kevin Spacey, Annette Bening e Thora Birch estão de tirar a respiração, acrescentando ao grupo a talento-revelação de Angela Hayes. Contudo, é a personagem secundária de Wes Bentley, como o adolescente Ricky Fitts, que parece ter saído de “Aparição”, de Vergílio Ferreira, e que se me apresenta, apesar de todos os defeitos que o tornam ainda mais humano, como a mais sensata e sábia personagem do filme, e que fez com que um ordinário saco de plástico a dançar com o vento ganhasse vida e perfeição.
O filme viaja, portanto, no limiar onde patéticos devaneios, receios e ilusões de típicos ocidentais se chocam (há quem queira ser bem sucedido profissionalmente, quem queira impressionar alguém, quem viva em negação consigo mesmo, e por aí adiante), acabando as personagens por se comportarem, tal como em “Little Children” também nos mostra, como autênticas crianças desprovidas de bom senso. E, já que pegamos no exemplo, tornam-se evidentes as influências causadas por “American Beauty”; o sentido profano como forma de explorar a psicologia dos seres humanos no cinema é visível em diversas obras desta década presente.
Pouco há mais que dizer quando tudo me parece tão bem feito. Desculpa andrajosa para quem não tem vontade para escrever? Parece-me a mim, para quem viu o filme, que não, e que entenderão o que acabo de dizer. Se bem repararmos, numa cena em que Lester está a trabalhar, podemos ver escrito na secretária “look closer”, e o que e o que nos compete fazer durante as duas poderosas horas de filme e após, para sempre: olhar mais aproximadamente, com olhos de ver e analisar, de forma a podermos experimentar verdadeiramente toda a beleza e o milagre de viver.
[publicado originalmente a 21 de Fevereiro de 2009]
9,5/10

:Grandes Momentos #5



A liberdade e a vida, vista pela janela do infinito e da impossibilidade. O precioso Mar Adentro (2004) vale por isto e por muito mais. 

Dezembro & Sam Mendes

Image and video hosting by TinyPic


Após um mês dedicado a Martin Scorsese, volto a reunir forças com os blogues CINEROAD, seeSAWseen e Split Screen para uma iniciativa centrada no multifacetado, socialmente interventivo e artisticamente notável Sam Mendes, realizador de Beleza Americana, Estrada para Perdição, Máquina Zero, Revolutionary Road e Away we Go. Comemoramos, assim, a época de Natal com artigos sobre o sensível cineasta e com a ajuda inédita do nosso convidado - o brasileiro Pedro Tavares, do blog Cinema O Rama.

segunda-feira, novembro 30, 2009

:Tudo Bons Rapazes



Pouquíssimos são os filmes que conseguimos dizer, com toda a segurança, que nos agarram desde a primeira instância até à última e mais memorável, pela profunda qualidade que lhes são intrínsecos. Goodfellas apresentou-se, qual delirante dinamite, como um exemplo perfeito e explosivo do que referi. Não há palavras que melhor descrevam um argumento tão envolvente e tão bem estruturado com uma trama deliciosamente relatada — o nome de Nicholas Pileggi é exaltado entre nós, desta forma, com toda a justiça, antes de qualquer outro. Por sua vez, um Scorsese, determinado e consciente do seu valor e talento, filma, em constantes e grandiosos long takes, de forma perfeita, a essência da experiência de vida do nosso carismático protagonista, tão bem encarnado por Ray Liotta. A juntar ao aparato, Joe Pesci e Robert DeNiro juntam forças para que os bons companheiros brilhem com toda a intensidade merecida. Enfim, uma lição de autêntico cinema, um clássico luzente, que bem termina com a iniciativa Novembro & Martin Scorsese, levada a cabo, também, pelos blogues CINEROAD, e Split Screen e o convidado Cinema is my Life.
9/10

domingo, novembro 29, 2009

:Moon - O Outro Lado da Lua



Absolutamente surpreendente. Uma gema da ficção científica e do cinema independente que não contava ser tão poderoso. O primeiro e ambiciosíssimo filme de Duncan Jones deixa suspensa, mais ou menos, e mais mais do que menos, uma sensação rara, daqueles que fiquei com pouquíssimos filmes. Não excluindo dos pontos fortes do argumento temáticas que são abordadas subtilmente como as fronteiras da ciência e da tecnologia no futuro, o que verdadeiramente campeia neste pequeno grande filme é a forma deliciosa e audaciosa como, tragicamente, somos confrontados com o vazio e a nulidade da existência do nosso protagonista, interpretado por um magnífico, versátil e crível Sam Rockwell. E a relação entre GERTY e Sam, apesar de toda a plasticidade que poderíamos, num julgamento apressado e injusto, exaltar, torna “Moon” uma das mais humanas fitas do ano. Influenciado de forma clara pelo “2001” kubrickiano (e, até mesmo, “The Island”, de Michael Bay?), aliado a uma narrativa inteligente e quase provocatória, a ambiência que nos proporciona Clint Manssel, eternizado pelas composições musicais de “Requiem for a Dream” e “The Fountain”, traduz-se numa inesquecível viagem à lua em noventa minutos, pautada por uma belíssima fotografia e direcção artística. Em suma: a ver e a rever, com urgência, para todos aqueles que gostam de cinema em pleno.
9/10

:Chinese



"Chinese" ou como tranformar uma música em algo tão idílico.

terça-feira, novembro 24, 2009

:Gangs de Nova Iorque



Tínhamos tudo para que “Gangs of New York” fosse um filme, no mínimo, grandioso. Nomeado para dez Óscares sem sequer conseguir conquistar um, o caso da Academia evidencia, desta vez bem, como o filme, que reúne elementos irrepreensíveis como é o caso da excelência interpretativa do elenco (a qual não inclui Cameron Diaz), uma banda sonora heterogénea mas magnífica (e que ambienta uma das melhores cenas finais de sempre) e uma esplêndida fotografia, não conseguiu ir para além da ambição. O esforço e investimento tidos na representação das cenas de combate e de confronto entre as mais diversas ideologias acaba por não se manifestar na fraca linha narrativa com que se vai movendo, vagarosamente, o filme. Tendo como base uma história pouquíssimo sólida e um desenrolar de eventos igualmente frágeis em termos de profundidade e autenticidade, a realização conseguinte acaba por transparecer todas essas falhas que enunciamos. Estamos, portanto, perante uma obra apenas interessante que, felizmente, nos deixou com mais uma interpretação inesquecível de Daniel Day-Lewis.
7,5/10

segunda-feira, novembro 23, 2009

:Perguntas #2


Quem não gostava de realizar um biopic de Variações?

quarta-feira, novembro 18, 2009

:O Aviador



Foi em 2004, altura em que O Aviador arrecadou cinco Óscares, onde o nosso Scorsese, saiu, mais uma vez e na má tradição da Academia, de mãos a abanar. E com toda a legitimidade podemos exaltar a ocorrida injustiça porque estamos perante uma obra simples e unicamente surpreendente. Excelente e interessantíssimo do ponto de vista histórico e cultural, o filme é um total triunfo técnico (a cinematografia e a direcção artística são muito bons) e performativo — Hepburn está deliciosamente viva no corpo de Blanchett, e poucos conseguiriam entrar na complexa mente de Hughes como DiCaprio conseguiu entrar. Aliado ao cineasta, os dois exploram, nesta biografia, e com grande impecabilidade, o pantanoso terreno da fobia, da obsessão e do desejo da perfeição. Pecando pela ausência de algum ritmo no decorrer do filme, dada a sua duração que consegue ser algo fastidiosa e exagerada, este regista o que tudo deveríamos saber e compreender da extraordinária vida de um dos mais ricos homens do mundo.
8/10

segunda-feira, novembro 16, 2009

:Aleflavismo #5



A diferença entre o real aparentemente lógico e o irreal aparentemente ilógico

domingo, novembro 15, 2009

:Grandes Momentos #4


Recheado de deliciosas e belíssimas sequências musicais escritas com uma delicadeza e cuidado inegáveis e com um elenco deslumbrante, é com segurança que reafirmo que, desde que o vi, Les Chansons D'Amour é, para mim, o melhor dos musicais românticos. Aqui fica uma conversa bem poética para animar este cinzento fim-de-semana.

sexta-feira, novembro 13, 2009

:Touro Enraivecido




Tudo em Raging Bull é perfeito. Parecer-nos-ia algo incongruente sabê-lo não víssemos nós o filme, mas não há que negar nem desmentir um facto que é por demais evidente. Aliados a um argumento que, claramente, foi terna e sinceramente redigido, a uma fotografia e montagem magníficos e a uma banda-sonora belíssima encontramos uma parceria que nunca se encontrou em tão boa forma — Martin Scorsese e Robert DeNiro fundem-se num só (apreendemos com clareza que os dois estiveram para o filme em pleno) e fazem com que Jake La Motta se mostre na sua completude para o espectador mais atento. E, acima de todos os seus problemas relacionais e profissionais que vamos observando com uma necessária compreensão e tensão, acompanhamos, com ele, a luta mais importante — a que ele tem consigo mesmo, frente ao espelho da sua angústia existencial, meticulosa e literalmente traduzida numa cena final inesquecível. Um clássico do cinema absoluto e imperdível, que se coloca, indubitavelmente, no topo dos melhores filmes alguma vez feitos.
10/10

:A Lucidez



Muito mais é preciso para que prevaleça o bom senso e a lucidez. Para que se debele a cegueira, o folclore, o ódio. Muito mais. E nós? Nós fizemos de tudo... e assistimos a tudo isto, com orgulho e felicidade...!

segunda-feira, novembro 09, 2009

:Taxi Driver




Nova Iorque nunca foi tão solitária como em Taxi Driver. Scorsese oferece-nos, com este estranho, melancólico e pessimista mas belo ensaio sobre a perda do indivíduo na multidão, uma vagarosa deambulação pelas ruas da sociedade urbana, conduzida por um metamorfósico Robert De Niro que dificilmente esqueceremos. A dor do anónimo Travis é a dor que se sente mas que não se verbaliza, causada pela pesada apreensão pessoal de que a anomia social está em constante ebulição, transformando a sociedade num só massificado e decadente — e as suas acções conseguintes vêm a justificar-se como símbolo da sua vontade de criar, de alguma forma, uma “limpeza” que se afigura por demais necessária. Mas ele, tal como tudo e todos, permanece anónimo, apesar de todo o esforço que dele assistimos durante duas horas, perdendo a sua individualidade em prol da fria e imposta massificação. Tal como a própria tagline do filme refere, on every street in every city, there's a nobody who dreams of being a somebody. E é, entre os outros elementos estruturantes, na melodia de Herrmann e na fotografia de Chapman que tudo parece coadunar, finalizando uma respeitosa viagem onde o taxímetro da moralidade e da censura pareceu ter estado sempre desligado.
8/10



:Aleflavismo #4



Morrer

domingo, novembro 08, 2009

:Grandes Momentos #3



Perturbador, real e avassalador - o ataque dos EUA em Hiroshima, em dolorosa câmara lenta, em "Gen Pés Descalços", um dos melhores registos documentais e histórias de sobrevivência que a sétima alguma vez viu.

sábado, novembro 07, 2009

:Campanhas



Decidi partilhar hoje convosco um vídeo promocional realizado para a lista B que concorre, na minha escola, para a Associação de Estudantes, e na qual sou secretário. A campanha oficial aproxima-se, como também as eleições - agora falta saber de tudo isto funcionará e poderemos, realmente, mudar aquilo.

quinta-feira, novembro 05, 2009

:Frank Sinatra a triplicar




Qual das seguintes três celebridades, que pelo papel disputam, escolheriam para encarnar o mítico ícone da História da música, no próximo biopic de Martin Scorsese (realizador que, como é sabido, está a merecer um especial este mês de Novembro aqui, no CINEROAD, Split Screen e no Cinema is my Life): Leonardo DiCaprio, George Clooney ou Johnny Depp? Personalidades díspares que também se contrapõem pelo talento diante da câmara. Mas para se ser Frank Sinatra não há só que ser bom - há que ser perfeito.


quarta-feira, novembro 04, 2009

:Há que repetir?


Quando se equivale um referendo a um instrumento máximo da democracia, então penso que entramos no domínio do absurdo, e por duas simples razões. Por se ter conhecimento a priori de qual seria o resultado deste, e porque um referendo desta natureza é antidemocrático (já que implica a sublevação e tirania da maioria que se caracteriza ainda, infelizmente, pela sua irreflexão, ignorância e egocentrismo). Os Direitos Humanos não são, simplesmente, discutíveis - são algo, à partida, deveriam nascer com todos os presentes e futuros cidadãos. A sondagem do lado foi retirada do online jornal Público (a qual poderão votar clicando aqui), surgindo num contexto em que o Partido Socialista, pondo de parte a hipótese de deixar que a população portuguesa tenha a última palavra, apresentará, em breve, uma proposta de legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo (pondo, contraditoriamente, de parte a adopção, o que bastante me indigna - não é este o mesmo partido que se propôs a remover quaisquer discriminações baseadas na orientação sexual?), e num contexto em que associações familiares, feministas e religiosas lutam para referendar esta matéria (elas só querem impedir que se torne uma realidade, nada mais).

terça-feira, novembro 03, 2009

:Novembro & Martin Scorsese




É o grande injustiçado da Academia, tal como era chamado antes de vingar um Óscar para melhor realizador com o aclamado The Departed - Entre Inimigos. Falo, pois, de cineasta norte-americano Martin Scorsese que eu e os habituais CINEROAD e Split Screen (convidado especial: Cinema is my Life) faremos neste outonal mês de Novembro. Não conheço muito dele, mas mal posso esperar para o fazer - desta forma, esperem críticas, artigos e homenagens diversas. Bom mês de Novembro para todos!


:Outubro & Lars Von Trier: quadro-síntese



(Clicar na imagem para aumentar)

segunda-feira, novembro 02, 2009

:Grandes Momentos #2



A cena que hoje, esta marcante segunda-feira, vos indico provém do (re)conhecido musical Tarzan, provavelmente o último grande clássico animado tradicionalmente da Disney. Nesta sequência, uma Jane muito british consegue irritar os animais, sendo salva por Tarzan, conhecendo-o momentos a seguir. É por demais interessante os vários detalhes que, coadunados, nos trazem um momento de grande riqueza visual e narrativa - a personalidade forte e inflexível de Jane (que se encontra, apesar da sua auto-determinação, em constante diálogo interior) que leva, como consequência feliz, a falas rápidas e hilariantes por parte da personagem; o confronto do homem "civilizado" com a selva e o desconhecido; o interesse do homem-macaco em salvar, por curiosidade, um semelhante - e aquilo que começa a ser a aculturação irreversível, depois de um contacto mais próximo. A união das mãos que se apresenta como o último quadro simbólico (e muito romântico) do vídeo, vem a demonstrar as desigualdades latentes no nosso meio social e relacional que nos tornam, acima de qualquer outra coisa, tão iguais. Tal evidencia, por conseguinte, a necessária aceitação dessas diferenças, sejam estas de que ordem for - os meus sinceros parabéns àqueles que conseguem fazê-lo!

domingo, novembro 01, 2009

:Au revoir les enfants



Vários são os excelentes filmes tentam retratar o holocausto nazi, pela via da ficção ou do documentário, do drama e da comédia, da homenagem das vítimas e dos que dele sobreviveram ou passaram ao lado. Au revoir les enfants, vencedor do Leão de Ouro em 1987, assume-se, contudo, como um atípico e belíssimo filme que nos perspectiva no quotidiano de um colégio católico para rapazes provenientes de famílias ricas francesas, em 1944, numa época em que França se encontrava ocupada pelos soldados alemães. No seio da inocência e das brincadeiras, por onde passa despercebida todo o preconceito, vemos nascer, progressivamente, uma amizade entre o protagonista, interpretado por Gaspard Manesse, e uma criança judia, encarnada por Raphael Fejto, refugiada no internato de forma a escapar à perseguição nazi. Unidos pela literatura e pelas vitórias pessoais que juntos vão atingindo, e sob a iminência de uma tragédia desconhecida, os dois ultrapassam todas as barreiras ideológicas e culturais que se lhes põem defronte. Louis Malle escreve e realiza, desta forma, uma obra-prima quase autobiográfica que, paulatinamente, demonstra uma sensibilidade e humanidade dolorosamente comoventes, que dificilmente serão apagadas da nossa memória.
9/10

sábado, outubro 31, 2009

:Dogville - Créditos finais



Esta brilhante sequência, de Dogville, que hoje vos deixo, vem a resumir o que é a pessimista saga dos EUA de Lars Von Trier. Acaba assim mais um especial, em parceria com os blogs CINEROAD, seeSAWseen e Split Screen. Não deixem de esperar pelo quadro final das classificações e, também, uma nova promoção para o Novembro próximo.

:Aleflavismo #3



Nascer ou Uma página de possibilidades

sexta-feira, outubro 30, 2009

:Baila!



O vídeo colocado acima é um dos grandes exemplos que prova que vale a pena descobrir Nanni Moretti. Divertido, único e profundamente humano, este realizador / argumentista / actor deixou-nos uma autobiografia inesquecível ("Querido Diário") que não só estuda e priveligia, com um olhar crítico mas terno, as relações inter-pessoais como também homenageia toda a essência da sétima arte, e deixa-nos também um ensaio melancólico, ainda que esperançoso e memorável, sobre a perda familiar ("O Quarto do Filho"). Definitivamente, a ver mais deste cineasta. (Alexandra, que amanhã fazes anos, dedico-to especialmente a ti!)

quinta-feira, outubro 29, 2009

:Quando não há mais nada a dizer



Um presente emprestado de Merry Christmas Mr. Lawrence e de Sakamoto Ryuichi, para os momentos onde, depois de passada toda a incompreensão, todo o ódio e toda a insustentável leveza da intolerância, não há mais nada a dizer - só respirar, só viver!

quarta-feira, outubro 28, 2009

:Perguntas #1



Que princesa Disney vai estar encarcerada neste torre tão belamente conceptualizada?

terça-feira, outubro 27, 2009

:Antichrist em Cannes



Lars Von Trier - realizador que este blog e CINEROAD, SeeSawSeen e Split Screen estão a dedicar um especial neste mês de Outubro - é, tal como podemos comprovar com a visualização do vídeo de cima, o "melhor" cineasta. Pretensão e água benta (ou, neste particular contexto, não tão benta) deixada de lado, é interessante observar a dinâmica que ele e os protagonistas do seu novo filme, "Antichrist", têm entre si. Tão fascinantes como as suas obras, só mesmo, provavelmente, a produção delas. O filme já não estreia, entre nós, portugueses, este mês - 21 de Janeiro do ano próximo é a data agora indicada.

segunda-feira, outubro 26, 2009

:Aleflavismo #2



A democracia contemporânea

:Ponyo à Beira-Mar - a batalha das versões musicais



Muito recentemente vi o novo filme (em japonês) de Hayao Miyazaki, Ponyo à Beira-Mar - que, posso garantir-vos, é um óptimo filme com uma grande riqueza visual e narrativa - e não é possível, simplesmente, ficar-se indiferente à música principal. Ora, à boa e tradicional forma americana, a Disney decidiu modificá-la, e o resultado está bem visível no vídeo que acima vos deixo, que compara as duas versões. Notem, também, no criador do vídeo, que, realmente, se encontrava frustrado...!

domingo, outubro 25, 2009

:Dancer in the Dark



Na altura em que Cannes foi presenteado com a nova longa-metragem de Lars Von Trier, e que fez lembrar o precedente “Ondas de Paixão”, a crítica viu-se numa divisão ambivalente quase total, pondo aqueles que o odiavam e consideravam uma desilusão num canto e noutro os que o amavam e enalteciam o sentido inovador da narrativa. A luta foi ganha, claramente, por aqueles que a adoravam - e tal foi comprovado com a entrega da Palma de Ouro ao realizador e o prémio de melhor interpretação feminina a Björk, pelo musical atípico que trouxe, tempos depois, uma grande legião de fãs. Se, contudo, esta pequena obra surpreende largamente pela metamorfose da actriz, peca, paradoxalmente, pela personagem revoltante que esta encarna. Ou, melhor dizendo, pela composição geral de todo o melodramático argumento (a tentar ter, a todo custo, alguma credibilidade) e de todas as personagens, e que se movem no fio espectral da estupidez. Von Trier constrói uma parábola sobre a humanidade que podia primar pelo brilhantismo não fosse o sentido novelesco que foi exaltando - comprovado pela série de acontecimentos impossíveis (ou será que existem, realmente, pessoas tão cegas sobre a sua condição?!) que se vão sucedendo, uns atrás dos outros - e não, não me refiro às sequências musicais fantasiosas, que estão espectacularmente executadas - e que vêm a culminar numa poética cena final. Para amar Dancer in the Dark, este filme de sucesso com um estilo que respira novidade e beleza, músicas prodigiosas e interpretações simplesmente notáveis, há que amar as personagens em toda a sua essência, não vá a sua visualização resultar numa insustentável experiência.

7/10

:Referendo - sim ou não?


Formado o novo governo  do segundo mandato de José Sócrates, parece que o PS quer, tal como indica o Jornal de Notícias, "despachar" a questão da legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo "antes da discussão do Orçamento do Estado." Ora, se isto é uma questão de apressar algo delicado ou não, pessoalmente não o posso dizer - mas estando tão certo que o partido se ocupará, muito brevemente, sobre este assunto, também seria de esperar que a contestação chegasse, mascarada, claro de associações de defesa à família (...).


Dezenas de associações ligadas à defesa da família reuniram-se ontem para ponderar a hipótese de pedir um referendo sobre os casamentos homossexuais. Para já, o PS recusa porque quer resolver a polémica rapidamente.
A hipótese começa a ganhar força nos movimentos e associações de defesa da família, embora "ainda não haja uma posição final", revelou ao JN Isilda Pegado, Presidente da Federação Portuguesa Pela Vida. A única coisa com que todos concordam, garante, é "que o país não admite que esta matéria possa se tratada apenas em sede parlamentar".
As condições políticas ainda não estão de feição no Parlamento para convocar uma consulta popular. Francisco Assis, líder parlamentar do PS, garantiu ao JN que "não haverá abertura" e BE, PCP e Verdes são contra a ideia de referendar os direitos dos homossexuais. "O casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma matéria para ser discutida no Parlamento", disse ao JN o líder parlamentar socialista. E é uma questão prioritária: "não vejo razão para protelar", respondeu à pergunta sobre se o assunto deve estar resolvido antes da discussão do Orçamento do Estado, ou seja, até Dezembro.
Cerca de 40 representantes de movimento e associações de todo o país estiveram ontem reunidos em Lisboa com o casamento de homossexuais em agenda. Isilda Pegado reconhece que "muitas pessoas têm contactado a Federação com vista a levar para a frente um referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo", mas por enquanto a hipótese não passa de "uma reflexão".
Ontem, Claúdio Anaia, que falou em nome de um grupo de militantes socialistas católicos, afirmou à Lusa estar disposto a integrar uma plataforma "multipartidária" que comece de imediato a recolher assinaturas. A convicção de Anaia é que "a maioria dos portugueses é contra o casamento homossexual" e contra "a adopção de crianças por casais homossexuais".
A adopção é o tema que ainda divide os partidos favoráveis, com o PS e o PCP a levantarem dúvidas, enquanto o BE aceita pacificamente. Mas no essencial os partidos da esquerda entendem-se. E mesmo o PCP já mudou de posição, tendo votado favoravelmente o projecto que os Verdes apresentaram na anterior legislatura.
"A proposta de referendo vem fora de tempo", declarou o líder da JS ao JN. "É uma posição alarmista e desesperada de quem quer condicionar a discussão porque prevê que o processo de aprovação seja rápido", enfatizou Duarte Cordeiro.
O ex-bloquista Miguel Vale de Almeida, eleito nas listas do PS, sublinhou ao JN que o casamento de homossexuais "é um assunto para ser resolvido ao nível parlamentar de uma forma célere".
"Não é referendável porque não se referendam os direitos de ninguém", declara. Segundo o deputado "as associações de defesa dos direitos dos homossexuais são contra a ideia de referendo que comportaria o risco de "colocar os direitos de uma minoria nas mãos de uma maioria".
Isilda Pegado responde que não é o direito de uma minoria que está em causa. "Essa minoria já tem o direito que reclama. O direito de viver como outras pessoas, nas suas circunstâncias física e psíquica próprias do homossexual. E os seus afectos não são sindicáveis pela lei", conclui.
(Fonte)

Se, por um lado, seria mais democrático e mais justo de um ponto de vista social que houvesse o proposto referendo (dando, à partida, lugar para o confronto de argumentos de um "sim" necessário e um "não" falacioso e consciencialização nacional do tema), por outro seria menos democrático e menos justo de um ponto de vista social que houvesse o proposto referendo (já que, sabendo-se desde já que a  grande  parte da população portuguesa é, sobre isto, ignorante e homofóbica, invalidando-se o seguimento da legalização, ia-se pôr de parte, uma vez mais, a minoria que é a comunidade LGBT).
Não esqueçamos que a sociedade aprende com a lei - e uma vez legalizado um assunto é mais provável que haja uma maior aceitação deste (basta compararmos o exemplo da nossa vizinha Espanha, onde, a princípio, a maioria se opunha contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e, agora, acontece o oposto).

sábado, outubro 24, 2009

:Grandes Momentos #1

´

A iniciar esta nova rubrica, deixo-vos com a perfeita sequência do poderoso Irreversível - que, contrariando o cenário precedente, nos apresenta uma visão idílica do universo - a que, necessariamente, corresponde à sua génese. A cena surge, assim, como o argumento último (no duplo sentido do termo) da tese apresentada no filme - le temps detruit tout. Apesar de a incorporação estar, infelizmente, desactivada, aconselho-vos vivamente a verem o vídeo acima no Youtube.

quarta-feira, outubro 21, 2009

:O Solista



A terceira longa-metragem da prematura mas marcante carreira de Joe Wright chega a Portugal no seguimento de “Expiação”, uma das mais subvalorizadas e admiráveis obras da década, tal como, ainda que em menor escala, a adaptação do romance de Jane Austen, “Orgulho e Preconceito”. Não seria, portanto, de admirar que, para este “O Solista”, as expectativas estivessem no topo. Contudo, o filme consegue deixar um sabor amargo a todos os níveis, pecando principalmente a índole narrativa (da responsabilidade de Susannah Grant) que faz com que a película culmine num final repleto de clichés, bem típico das mais banais biopics e que não permite com que as interpretações do bem preparado Jamie Foxx e até mesmo de Robert Downey Jr. se destaquem. Ao som de um espectral mas imperceptível Dario Marianelli (a sequência de A City Symphony é, neste e nos restantes aspectos, a mais bem executada) e ao ritmo de um Joe Wright mais experimental, urbano e socialmente crítico, a fita consegue, apesar de tudo, inovar - especialmente com a bela cena musical de uma peça de Beethoven, onde a conseguimos “ver” com a mente de Nathaniel. Um trabalho dispensável e insosso da filmografia de Joe Wright, que muito facilmente será esquecido caso este recupere a boa forma com o futuro “Indian Summer”.
Nota especial para o rápido mas evidente long take que homenageia a comunidade dos sem-abrigo em Los Angeles, que vem a demonstrar que, apesar de Joe Wright fugir bastante ao estilo do precedente “Expiação”, não abandonou este cânone que tanto delicia os seus fãs.

7/10

segunda-feira, outubro 19, 2009

:Aleflavismo #1



Só para provar que as aulas de Português são verdadeiramente inspiradoras, aqui fica uma das muitas e preciosas obras de arte que eu e a Alexandra fomos criando. Uma corrente que permite o preto, o cinzento, o branco e o vermelho, as linhas rectas e as circunferências. E, acreditem, muita coisa se pode originar a partir disto :P A este, chamamos Romeu e Julieta, e é dos nossos preferidos. Esperem mais coisas estúpidas :D

sábado, outubro 10, 2009

:A Alexandre Inácio



Diariamente, as palavras são relembradas. Para sempre. Obrigado.

quarta-feira, outubro 07, 2009

:Compreendendo os adolescentes

Muitas são as películas que se destinam ao público adolescente - afinal, que público, na sua grande maioria, é mais consumidor e ingénuo relativamente às imagens que se lhe são exibidas? Poucas são, contudo, aquelas que tentam, de uma forma mais ou menos directa, entrar na profundidade da sua mente, criticando o seu comportamento e a busca da identidade na violência, na sexualidade ou, simplesmente, no conformismo. Tarefa difícil mas certamente não irrealizável. Dessa forma, deixo-vos hoje com uma série de cinco inspiradoras películas que valem a pena ser visionadas pelo menos uma vez na vida, dada a sua qualidade artística ou a forma como marcaram a sociedade e o mundo da sétima arte pela temática (ou a forma como esta é abordada). Mysterious Skin (2007), Paranoid Park (2007), Ken Park (2002), The Dreamers (2003) e A Clockwork Orange (1971) são, para além dos que em baixo enuncio, filmes muito recomendáveis.

Sementes de Violência (1955)


Fúria de Viver (1955)


Kids - Miúdos (1995)


Elephant (2003)


Entre les Murs (2008)