sábado, fevereiro 23, 2008

Terror nas Montanhas 2

"Saw 2", "Hostel Part: 2" são exemplos de sequelas que conseguiram manter (e, até, superar os originais) em termos de qualidade. No primeiro caso, foi mantido um dos escritores no original, apesar de um outro realizador - Darren Lynn Bousman - ter dirigido o projecto; no segundo, Eli Roth voltou a ocupar o espaço de realizador e argumentista. No final, o resultado conseguiu ser bastante positivo. Em relação a este "The Hills Have Eyes 2", o realizador do remake the 2006 preferiu ficar fora do projecto, dando lugar a Martin Weisz na realização e a Wes Craven (o homem por detrás do original de 1977) e a Jonathan Craven na escrita do argumento. E se pensavam que esta mudança poderia ser positiva...


... Enganaram-se. Alexandre Aja é um prodígio do terror moderno (quem viu o remake e "Haute Tension" sabe do que falo) e, apesar de compreender a escolha dele em não se envolver nesta sequela - seria um passo atrás na sua carreira, afinal -, fazê-la sem ele foi um erro crasso. O argumento, da autoria de Wes Craven e do seu filho - escrito num mês - é fraco, não explica - a menos que achem aquelas linhas introdutórias alguma espécie de explicação - o que aconteceu aos sobreviventes do primeiro, está repleto de clichés, maus diálogos e personagens estereotipadas. É claro que, se o argumento contém tantas falhas, o resto do filme sofrerá inevitavelmente.



O filme começa logo com uma cena bastante intensa a envolver um parto - um pouco semelhante com aquela que inicia "Texas Chainsaw Massacre: The Beginning" (7.5/10), mas mais repugnante -, no qual nos é explicado o porquê de os mutantes terem uma certa tara por violações (novamente, quem viu o remake sabe do que falo). Sim... pensavam que eles violavam mulheres - aparentemente - indefesas por prazer? Nada disso! O seu objectivo, como nos é repetido - desnecessariamente - várias vezes ao longo do filme é procriar! Infelizmente para nós - e para a grávida em questão -, o bebé morre à nascença. A seguir, uma cena semelhante à do remake e conhecemos então as personagens principais, um grupo de soldados - bastante inexperientes, ou estúpidos, cabe-vos a vós decidir, julgando as suas acções ao longo do filme - sobre os quais pouco ficamos a saber: há o mexicano, há uma que tem tatuada no braço o nome do filho, há outro que faz piadas, há aquele que é contra a guerra e é gozado pelos outros, enfim, nada de novo. Também, não é isso que importa a este filme, desenvolvimento de personagens. O que lhe importa realmente é as death-scenes e os confrontos que se vão sucedendo entre soldados e mutantes, agravados quando uma personagem principal decide, após o ataque de um mutante, "aliviar-se", afastando-se dos outros sem os avisar, e é capturada por um mutante que, tal como os camaleões, detém a distinta capacidade de se camuflar - falarei disso mais à frente - sendo de imediato levada para dentro das grutas onde a seita vive. Cabe aos outros - sem a ajuda do seu general, que entretanto morre no calor de um confronto - salvá-la, mas acho que não é difícil adivinhar que tudo acaba por correr bastante mal a todos.



Mencionei no parágrafo anterior as death-scenes e, quanto a elas, pouco há a dizer. A body-count do filme é enorme, mas isso não quer dizer que as personagens morram de formas originais, dramáticas, tensas, ou qualquer coisa do género. Não, a maior parte morre baleada, ou caindo de uma ravina, ou simplesmente desaparecendo arrastada para as grutas. Mas descansem aqueles que pensam que não há gore no filme: há, e bastante, talvez mais do que no primeiro. E devia ser esse o objectivo tanto do realizador como dos argumentistas, mas só isso não é, pelo menos para mim, suficicente. Lá para o meio do filme, tentando combater a mediania com que as personagens vão sendo despachadas, foi incluída uma violação - nojenta - que em nada se compara à do remake, onde havia uma ligação com a personagem e torcíamos para que escapasse. Aqui, apenas assistimos, enojados pelo liquído - estranhamente semelhante a esperma - que teima em sair da boca do mutante que atemoriza a mulher, mas pouco mais. O grande problema é que as personagens são todas tão unidimensionais que não há qualquer uma que nos faça sentir pena do seu destino.


Para além de não terem personalidades realistas - talvez o que é contra a guerra, Napoleon, se perfile como a personagem principal, quer pelas atitudes, providas de um grau de inteligência ligeiramente superior à dos seus comparsas, quer pela sua caracterização -, as personagens estão continuamente a cometer decisões idióticas que só as arrastam para situações mais complicadas. Dispersam-se uns dos outros - propositadamente -, vão explorar o terreno sem as armas, tentam fugir sozinhos, não se agrupam - como seria de esperar, dado que são soldados - e tentam aniquilar os inimigos com alguma estratégia - excepto naquela cena em que duas personagens servem de isco para um mutante -, enfim, nada. A meio do filme - ou mais cedo - já se torna fácil saber quem irá sobreviver e quem irá sucumbir às mãos dos mutantes.

Ah, falando em mutantes, não esperem criaturas muito assustadoras, mas sim imbecis. Sim, a maquilhagem fá-los parecer minimamente perigosos - principalmente aquele parecido com um camaleão -, mas as suas atitudes são incrivelmente previsíveis e não muito inteligentes. Eles limitam-se a lançar-se aos protagonistas - que, por burrice, vão gastando munições desnecessariamente ou vão perdendo as armas - e normalmente ganham o confronto devido à sua força física. Apesar de tudo, apenas um mutante consegue, em certa cena, criar um alvoroço enorme entre o esquadrão de soldados!

Depois de uma cena em que três personagens principais se vingam de um dos mutantes - sim, são precisos três, e admirei-me como não foram todos mortos ali mesmo -, o filme acaba com um cliff-hanger bastante semelhante ao do remake, deixando a porta aberta para uma sequela. "The Hills Have Eyes 2" foi, como vêem, uma desilusão tremenda, e em nada se compara ao remake de 2006, bastante superior. Felizmente para todos, o filme pouco rendeu na bilheteira, limitando trementamente as hipóteses de uma terceira parte alguma vez ser feita!